Publicado às 16h 35, desta segunda-feira (12)
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Aumentou para três o balanço de vítimas mortais da instabilidade e confrontos entre manifestantes e polícia no Senegal, na sequência da decisão do Presidente Macky Sall de adiar as eleições presidenciais inicialmente previstas para este mês.
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Um adolescente de 16 anos morreu na noite de sábado (10.02), no hospital, depois de ter sido ferido em Ziguinchor, na região de Casamança. A cidade do sul é um reduto do líder da oposição, Ousmane Sonko, que está atualmente.
Jovens e forças de segurança entraram em confronto durante todo o dia. Os manifestantes bloquearam estradas e atiraram pedras às autoridades. O adolescente “foi atingido por um projétil na cabeça e morreu devido aos ferimentos nos cuidados intensivos”, disse à AFP uma fonte hospitalar de Ziguinchor, sob condição de anonimato.
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“Houve vários feridos graves durante os protestos e um morreu. Foi atingido na cabeça por uma bala”, explicou Abdou Sane, coordenador do partido da oposição Pastef em Ziguinchor.
Dois outros jovens morreram na sequência de protestos na capital, Dakar, e na cidade de Saint-Louis, no norte do país, desde sexta-feira (09.02).
EUA e UE renovam apelos à paz
O Gabinete de Assuntos Africanos dos EUA partilhou as suas condolências com as famílias e amigos das vítimas numa mensagem nas redes sociais. “Entristece-nos saber que se perderam duas vidas”, declarou no X, antigo Twitter.
“Apelamos a todas as partes para que atuem de forma pacífica e ponderada, e continuamos a apelar ao Presidente Sall para que restabeleça o calendário eleitoral, restabeleça a confiança e traga calma à situação”, lê-se ainda na publicação.
Já a União Europeia (UE) exorta as autoridades senegalesas a “garantir as liberdades fundamentais”, diz a porta-voz da política externa e de segurança do bloco, Nabila Massrali, também no X.
Uma grave crise
A decisão de Sall de adiar a votação presidencial mergulhou o Senegal numa das suas piores crises desde a independência de França, em 1960.
O país deveria eleger um novo chefe de Estado a 25 de fevereiro. O nome do atual Presidente não constaria do boletim de voto: após dois mandatos, Macky Sall não pode voltar a candidatar-se.
No entanto, a 3 de fevereiro, um dia antes do início da campanha eleitoral, Sall anunciou que a votação seria adiada. O Parlamento aprovou por maioria o adiamento das eleições para 15 de dezembro, mas alguns membros da oposição apresentaram uma queixa ao Conselho Constitucional.
Os manifestantes saíram à rua em reação a este anúncio e a polícia respondeu com gás lacrimogéneo. Os protestos de jovens contra as forças de segurança tornam-se cada vez mais violentos, num país há muito visto como um refúgio de estabilidade e democracia na África Ocidental, uma região assolada por golpes de Estado e agitação.
Desde o anúncio do adiamento eleitoral, as forças de segurança senegalesas detiveram dezenas de pessoas© Stefan Kleinowitz/AP Photo/picture alliance
Sall afirma que adiou as eleições devido a uma disputa entre o Parlamento e o Conselho Constitucional sobre potenciais candidatos impedidos de concorrer. O Presidente diz ainda que pretende dar início a um processo de “apaziguamento e reconciliação” e reitera o compromisso de não se candidatar a um terceiro mandato, no meio de manifestações de preocupação da comunidade internacional.
Os líderes da oposição denunciaram a medida como um “golpe constitucional” e condenam a repressão dos manifestantes.
Onda de emigração à vista?
Os senegaleses estão em choque com a situação. “Se vemos o Presidente dizer que não vai realizar eleições em fevereiro de 2024, que quer inclusive adiá-las… como jovem, queres que o Presidente organize eleições e depois deixe o poder”, diz Cheikh Ndiaye, um ator de 37 anos em Yarakh, perto da capital senegalesa.
“Mesmo as pessoas que não querem emigrar para a Europa, quando veem esta situação, começam a pensar de forma diferente. Lamento, mas isto encoraja os jovens a deixar o país”, considera.
Uma das consequências imprevistas do adiamento das eleições poderá ser uma nova vaga de emigração, com repercussões não só para o Senegal mas também para a Europa. O país da África Ocidental tem uma população de mais de 18 milhões de habitantes.
A oposição continua a apelar a protestos generalizados© GUY PETERSON/AFP
Samira Daoud, que dirige o gabinete da Amnistia Internacional para a África Ocidental e Central, afirma que as razões subjacentes à migração podem ser económicas ou políticas e lembra que “as razões económicas são muitas vezes determinadas por razões políticas e pelo contexto político”.
Até agora, o Senegal era visto como uma democracia estável numa região que sofreu seis golpes de Estado desde agosto de 2020. Esta estabilidade sempre foi importante para o investimento estrangeiro, frisa Ibrahima Kane, advogado e analista da Iniciativa da Sociedade Aberta para a África Ocidental.
“Tudo o que ganhámos, em termos económicos e outros, foi graças à nossa imagem no estrangeiro”, diz o analista. “O Senegal não é rico, tem poucos recursos naturais. Mesmo as reservas de gás e petróleo de que se fala – toda a gente sabe que não há lá grande coisa”.
Em vez disso, considera, a grande vantagem do Senegal tem sido o seu sistema democrático. Agora, isso vai perder-se, com Kane a prever que “o soft power que o Senegal tinha vai desaparecer”.
Instabilidade na África Ocidental
Os investidores têm tendência para se retraírem antes de uma eleição – e essa situação pode agora manter-se durante quase um ano inteiro.
O investimento direto estrangeiro no Senegal aumentou nos últimos anos. De acordo com o Relatório Mundial de Investimento da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, ultrapassou os 2 mil milhões de euros em 2022, um aumento significativo em relação a 2021. O investimento é considerado fundamental para a industrialização do país e a criação de emprego. Todos os anos, cerca de 200.000 jovens entram no mercado de trabalho do Senegal.
Mas não é só a economia que pode sofrer com a instabilidade. Os observadores temem que as repercussões políticas do adiamento das eleições possam ser devastadoras. O Senegal partilha uma fronteira com o Mali. Grupos terroristas afiliados à Al-Qaeda e ao grupo “Estado Islâmico” estão ativos no país, bem como nos Estados do Sahel, Burkina Faso e Níger. Os países vizinhos mais a sul já lidam com o problema há muito tempo, mas até agora o Senegal tem sido uma espécie de exceção.
Ibrahima Kane está pessimista quando ao futuro: “Nos últimos dois ou três anos, houve muitos casos de células terroristas adormecidas baseadas no Senegal, que foram levadas a tribunal”, afirna. “Isto mostra que o país não é imune a estas coisas”. A preocupação é de que os grupos islâmicos possam explorar a atual crise política interna.
CEDEAO fragilizada
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) também foi afetada. A 28 de janeiro, o Mali, o Burkina Faso e o Níger, todos eles atualmente governados por juntas militares na sequência de recentes golpes de Estado, anunciaram a sua retirada do bloco. Isto torna o Senegal ainda mais importante, afirma Philipp Goldberg, diretor do Centro de Competência para a Paz e Segurança da Fundação Friedrich Ebert na África Subsariana, em Dakar.
“O Senegal é um Estado membro muito importante, não só para a CEDEAO, mas também para o envolvimento multilateral em geral”, sublinha. O responsável lembra que o país foi o maior contribuinte africano de tropas para a missão de estabilização das Nações Unidas no Mali, que terminou no ano passado após desentendimentos com o governo militar. “Tem havido aqui um envolvimento político significativo nas questões regionais”.
De acordo com Goldberg, a CEDEAO receia que o Senegal se torne mais um fator de desestabilização. A organização, que anteriormente tinha 15 Estados-membros, está a perder cada vez mais credibilidade. Tem criticado fortemente os golpes militares e, no início da semana passada, instou o Senegal a cumprir o calendário eleitoral.
No entanto, o analista considera que a CEDEAO formulou as suas declarações de uma forma muito diplomática, vaga e amigável: “Essencialmente, felicitaram Macky Sall por ter respeitado a Constituição do seu país e não ter procurado um terceiro mandato. Penso que isso mostra muito claramente como a região está nervosa”.
Alemanha preocupada com adiamento das eleições no SenegalDesativar mudo