Encontro entre os líderes foi o primeiro presencial desde fevereiro, quando, ao lado do vice-presidente dos EUA, JD Vance, protagonizaram uma acalorada discussão no Salão Oval
Por AFP — Cidade do Vaticano | Para Neto Gaia.
26/04/2025 09h 00 | Atualizado agora!

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, se encontraram brevemente no Vaticano neste sábado, pouco antes do funeral do Papa Francisco. Tanto a Casa Branca quanto o Gabinete de Zelensky confirmaram a reunião — o primeiro encontro presencial entre os dois desde que, com o vice-presidente dos EUA, JD Vance, protagonizaram uma acalorada discussão no Salão Oval, no final de fevereiro.
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O diretor de comunicações da Casa Branca, Steven Cheung, afirmou que os líderes “se encontraram em caráter privado e tiveram uma discussão muito produtiva”, acrescentando que mais detalhes seriam divulgados posteriormente. O porta-voz de Zelensky, Serhii Nykyforov, disse que a conversa durou cerca de 15 minutos na Basílica de São Pedro e que eles concordaram em dar continuidade às negociações ainda neste sábado. Equipes estavam trabalhando para organizar essa próxima reunião.

A viagem de Zelensky ao Vaticano ocorreu após um grande ataque russo às cidades ucranianas de Kiev, a capital, e Kharkiv, o que o levou a encurtar a visita que fazia à África do Sul nesta semana. Ainda neste sábado, o presidente russo, Vladimir Putin, declarou que a Rússia recuperou o controle de Kursk, a região de fronteira onde a Ucrânia lançou uma ofensiva surpresa no ano passado.
Em postagem no Truth Social pouco depois de chegar a Roma na sexta-feira, Trump defendeu que Ucrânia e Rússia realizem “negociações de altíssimo nível” para pôr fim à guerra de três anos, iniciada com a invasão russa. Seu enviado, Steve Witkoff, havia se encontrado com Putin no mesmo dia, e Trump afirmou que ambos os lados estavam “muito próximos de um acordo”. Putin não compareceu ao funeral.
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O encontro de sábado entre Trump e Zelensky também ocorreu pouco depois de Trump fazer sua declaração mais enfática até agora sobre a necessidade de a Ucrânia ceder território à Rússia para encerrar a guerra. Em entrevista publicada pela revista Time na sexta-feira, o presidente americano afirmou que “a Crimeia continuará com a Rússia”. Zelensky, no entanto, rejeitou a possibilidade.
— Nossa posição permanece inalterada — disse ele. — A Constituição da Ucrânia diz que todos os territórios temporariamente ocupados pertencem à Ucrânia. Faremos tudo o que nossos parceiros propuseram, exceto o que for contrário à nossa legislação e à Constituição ucraniana em relação à integridade territorial do país, incluindo a Crimeia.
A Rússia anexou a estratégica península no Mar Negro, no sul da Ucrânia, em 2014 — anos antes da invasão em grande escala que começou em 2022. Zelensky quer recuperar a Crimeia e outras áreas tomadas pela Rússia, mas essa exigência se tornou um ponto de impasse para Trump. Referindo-se à Crimeia durante a entrevista, concedida na terça-feira na Casa Branca, o republicano disse:
— Todo mundo entende que ela (a Crimeia) está com eles (os russos) há muito tempo. Eles têm seus submarinos lá muito antes de qualquer período de que estamos falando, por muitos anos. As pessoas falam principalmente russo na Crimeia.
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As propostas de Washington incluem o reconhecimento da anexação da Crimeia pela Rússia em 2014 e o congelamento do conflito, em grande parte, nas linhas de frente atuais, deixando Putin no controle de vastas áreas do leste e do sul da Ucrânia, segundo a Bloomberg News. Kiev também teria de abrir mão de seu objetivo de aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), a aliança militar do Ocidente.
Frustrado com os empasses, na última semana Trump ameaçou abandonar os esforços de paz caso não veja progresso em direção a um cessar-fogo. No ano passado, o republicano prometeu encerrar a guerra na Ucrânia em 24 horas caso fosse eleito presidente, embora tenha dito nesta semana que estava falando “em tom de brincadeira”.
Relação com o Papa
Trump chegou ao Vaticano acompanhado da primeira-dama, Melania Trump, e foi acomodado na primeira fila, próximo ao presidente da França, Emmanuel Macron, durante a cerimônia realizada ao ar livre. Na sexta-feira, enquanto voava para Roma, Trump disse a jornalistas que compareceria ao funeral “por respeito” ao Papa, morto na segunda-feira, aos 88 anos, após sofrer um AVC.
Francisco discordava veementemente da abordagem de Trump em temas como imigração, tratamento de migrantes e mudanças climáticas. O Pontífice argentino e o presidente americano se desentenderam logo no início do primeiro mandato de Trump. Em 2016, Francisco, numa crítica indireta ao então candidato e seu slogan “Construam o muro”, declarou que quem constrói muros para afastar migrantes “não é cristão”. Trump respondeu chamando o comentário de “vergonhoso”.
No entanto, após a morte de Francisco, o presidente republicano o elogiou como “um bom homem” que “trabalhou muito” e “amava o mundo”. Trump também determinou que as bandeiras dos Estados Unidos fossem hasteadas a meio mastro em homenagem ao Papa.