Cúpula em Bruxelas reúne líderes de 27 países e presidente da Ucrânia, em meio a pressões russas e americanas sobre o continente
Por O GLOBO | Para Neto Gaia (com agências internacionais — Bruxelas e Moscou)
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A Rússia advertiu nesta quinta-feira que o envio de tropas de países europeus à Ucrânia seria avaliado do mesmo modo que uma mobilização da Otan e que configuraria uma guerra direta com Bruxelas. A declaração russa ocorreu um dia após o presidente da França, Emmanuel Macron, sugerir que o envio de tropas poderia cumprir a garantia de segurança exigida pela Ucrânia para o fim da guerra, e no mesmo dia em que a os líderes da União Europeia participam de uma reunião de cúpula tendo em pauta o rearmamento do continente.

Foto: Ludovic Marin/AFP
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— Veremos a presença dessas tropas [europeias] em território ucraniano da mesma forma que vimos uma potencial presença da Otan na Ucrânia. […] Isso significaria não um envolvimento supostamente híbrido, mas direto, oficial e não disfarçado de países da Otan em uma guerra contra a Federação Russa — afirmou o chanceler russo, Serguei Lavrov, citado pela agência de notícias Tass nesta quinta.
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Uma série de autoridades russas também se manifestaram sobre a possibilidade de ter uma presença de forças europeias mais perto da fronteira. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, classificou a fala de Macron no dia anterior como “extremamente confrontacional” e que não havia como ser interpretada como de um líder que aspira a paz. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse que Macron fez declarações “completamente desconectadas da realidade”, chamando o presidente francês de “charlatão”.
Em um discurso na quarta-feira, um dia antes da abertura da cúpula europeia sobre segurança, Macron afirmou que militares europeus poderiam ser enviados à Ucrânia “quando um acordo de paz fosse assinado”, a fim de garantir que os termos fossem respeitados. Ele também descreveu a Rússia de Vladimir Putin como uma “ameaça à França e à Europa” e disse que havia decidido “abrir o debate estratégico” sobre a proteção de aliados no continente por meio dE “dissuasão” — ou seja, das capacidades nucleares francesas.

O acirramento do discurso de Macron sobre a Rússia não representa uma voz isolada no continente. Com o distanciamento dos EUA durante o governo de Donald Trump e uma guerra no Leste Europeu que não parece próxima de um fim, líderes europeus desembarcaram em Bruxelas nesta quinta com interesse particular em discutir como o continente vai se rearmar e se preparar para uma possível agressão russa.
— A coisa mais importante agora é rearmar a Europa — afirmou a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, ao chegar à reunião de cúpula nesta quinta-feira. — Não acho que tenhamos muito tempo. Então [precisamos] rearmar a Europa: gastar, gastar, gastar em defesa e dissuasão [nuclear].
Vários líderes europeus desembarcaram na Bélgica com um discurso afinado. Autoridades britânicas ouvidas pela rede pública BBC afirmaram que cerca de 20 países estariam interessados em tomar parte na “Coalizão dos Dispostos”, uma iniciativa mencionada pelo premier do Reino Unido, Keir Starmer, para garantir a segurança da Ucrânia.
O presidente da Lituânia, país báltico em posição ameaçada pela proximidade com a Rússia, Gitanas Nausėda, disse a jornalistas que a Ucrânia estava “ganhando tempo precioso” para o resto da Europa “pagando com sangue”, e que era necessário avançar no tema da defesa coletiva. A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, disse que finalmente o bloco estava discutindo como manter a Europa de pé.
— Este é um dia em que tudo pode mudar e provavelmente mudará, no que diz respeito à determinação da Europa em [se] rearmar e a indústria de defesa e nossa prontidão para enfrentar esse desafio russo ao mundo — disse o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, cujo país faz fronteira com a Ucrânia.
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Analistas apontam que, de certa forma, a reunião marca o início de um novo capítulo para a União Europeia — criada para fomentar a cooperação e a paz, e agora forçado a contemplar seu papel em um mundo dilacerado pelo conflito e pela animosidade. Os líderes europeus precisarão equilibrar cuidadosamente como apoiar a Ucrânia e financiar o aumento de seus gastos militares.
— Há claramente a sensação de que, em um momento como este, a Europa precisa se preparar para o pior — disse Jacob Funk Kirkegaard, pesquisador sênior do think tank Bruegel, com sede em Bruxelas, ao New York Times.
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Efeito Trump
Em menos de dois meses, o presidente americano, Donald Trump, mudou o jogo quando se trata de segurança na Europa. Exigindo uma paz rápida na Ucrânia, ele pressiona o presidente Volodymyr Zelensky em público e iniciou conversas com a Rússia sem envolver diretamente a Europa ou a Ucrânia. Ao mesmo tempo, insistiu que os países europeus gastem mais com sua própria defesa.
Publicado às 10: 40 | Atualizado às 11: 20, desta quinta-feira, 6.