Carlos Bolsonaro é alvo da PF em operação sobre Abin

Por Paolla Serra | Para Neto Gaia

Filho do ex-presidente é investigado por suspeita de ter sido destinatário das informações oriundas do monitoramento ilegal da Agência Brasileira de Inteligência

O vereador no Rio Carlos Bolsonaro

Foto: Marcio Alves / Agência O Globo

O vereador do Rio de Janeiro Rio Carlos Bolsonaro é alvo de uma operação deflagrada pela Polícia Federal na manhã desta segunda-feira para apurar indícios de um esquema de espionagem ilegal na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro. O filho do ex-presidente é suspeito de ter sido um dos destinatários das informações levantadas de forma clandestina. O caso foi revelado pelo jornal O GLOBO em março do ano passado.

Além de Carlos Bolsonaro, um policial federal que integrava os quadros da Abin na gestão passada é alvo da operação deflagrada nesta segunda-feira no Rio de Janeiro, na Bahia e no Distrito Federal. A PF cumpre mandados de busca e apreensão na residência e no gabinete do filho do ex-presidente. Ao todo, são cumpridos oito mandados de busca e apreensão: cinco no Rio, um em Brasília, um em Formosa (GO) e um em Salvador.

Quem são os alvos da ação da PF?

Também são alvos da ação Luciana Paula Garcia da Silva Almeida, assessora do gabinete de Carlos; Priscila Pereira e Silva, assessora do deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Abin; e Giancarlo Gomes Rodrigues, militar do Exército que estava cedido para a Abin na gestão Ramagem.

Em nota, a PF informou que busca “avançar no núcleo político, identificando os principais destinatários e beneficiários das informações produzidas ilegalmente no âmbito da Abin, por meio de ações clandestinas”. Ainda de acordo com a corporação, o grupo usou “técnicas de investigação próprias das polícias judiciárias, sem, contudo, qualquer controle judicial ou do Ministério Público”. Segundo a Polícia Federal, os investigados podem responder pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.

Na quinta-feira passada, a Polícia Federal realizou uma operação para apurar suspeitas de espionagem ilegal na Abin. O alvo foi o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), delegado da Polícia Federal e homem de confiança do clã Bolsonaro que dirigiu a Agência Brasileira de Inteligência durante boa parte do governo Bolsonaro.

Quem é Alexandre Ramagem?

Ramagem foi escolhido para assumir a Abin após ter coordenado a segurança de Jair Bolsonaro durante as eleições presidenciais em 2018. O delegado federal se aproximou de Carlos Bolsonaro, que o apoiou durante a campanha para deputado federal em 2022.

O que é o programa FirstMile?

Reportagem do GLOBO, publicada de março do ano passado, mostrou que a Abin utilizou um programa secreto chamado FirstMile para monitorar a localização de pessoas pré-determinados por meio dos aparelhos celulares durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL). Após a reportagem, publicada em março, a PF abriu um inquérito e identificou que a ferramenta foi utilizada para monitorar políticos, jornalistas, advogados e adversários do governo.

A ferramenta foi produzida pela empresa israelense Cognyte (ex-Verint) e era operada, sem qualquer controle formal de acesso, pela equipe de operações da agência de inteligência.

Polícia Federal no condomínio de Carlos Bolsonaro, no Rio — Foto: Márcia Foletto
Polícia Federal faz buscas no condomínio Vivendas da Barra, no Rio, onde mora o vereador Carlos Bolsonaro — Foto: GloboNews/Reprodução

Filho do ex-presidente é investigado por suspeita de ter sido destinatário das informações oriundas do monitoramento ilegal da Agência Brasileira de Inteligência

A lista completa das pessoas espionadas irregularmente ainda não é conhecida, mas a PF já identificou indícios de que adversários políticos do ex-presidente foram alvos: entre eles estão o ex-deputado Jean Wyllys e David Miranda, deputado federal pelo PDT do Rio que morreu em maio retrasado.

Há ainda a suspeita de que foram feitas vigilâncias durante as eleições municipais e em regiões próximas ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT), além de áreas nobres em Brasília e no Rio de Janeiro.

Familiares

A PF apura se a Abin montou uma operação paralela para tentar tirar Jair Renan Bolsonaro, filho de Bolsonaro, da mira de uma investigação envolvendo suspeitas de tráfico de influência no governo. Posteriormente, a apuração foi arquivada.

Na ocasião, a PF já havia apontado que uma ação da Abin havia atrapalhado as investigações envolvendo o filho 04 de Bolsonaro. Mas agora os policiais encontraram elementos que indicam como motivação uma tentativa de livrar o filho do presidente das suspeitas que recaíam sobre ele — e de incriminar o ex-parceiro comercial de Jair Renan.

Também durante a gestão de Ramagem, em 2020, a Abin participou de uma reunião no Palácio do Planalto sobre o caso das “rachadinhas” com a defesa do senador Flávio Bolsonaro.

Em dezembro daquele ano, a advogada de Flávio disse à revista ÉPOCA que tinha recebido relatórios de inteligência diretamente de Ramagem sobre o caso. A Abin negou, na ocasião, que os documentos eram oficiais, mas admitiu que houve a reunião com a defesa do filho do presidente. Em entrevista ao GLOBO em 2022, o sucessor de Ramagem na chefia da Abin, Victor Felismino Carneiro, disse que o encontro “foi uma consulta”.

Em nota, o senador disse ser “mentira” que a Abin tenho o favorecido e classificou o caso como ” tentativa de criar falsas narrativas para atacar o sobrenome Bolsonaro”.

Neto Gaia

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