‘Você paga pra jogar a Série D’: por que clubes emergentes criticam o calendário

By Neto Gaia set19,2025

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Enquanto clubes da elite jogam até 75 partidas por ano, equipes menores lidam com temporadas curtas e ociosidade, revelando um paradoxo no futebol nacional

Por Felipe Lobo/Sport Insider

19/09/2025 | Atualizado às 8h 55.

O Botafogo terminou 2024 com 75 jogos. A temporada alvinegra começou em 17 de janeiro e terminou em 11 de dezembro. No mesmo ano, o Santa Cruz fez seu último confronto em 16 de março, com apenas 13 partidas. Sem vaga em divisão nacional, o clube pernambucano encerrou suas atividades profissionais no terceiro mês do ano.

São duas realidades de um mesmo Brasil. O calendário é paradoxal: a elite está sobrecarregada, com mais jogos do que estrangeiros, e a base de centenas de clubes convive com a ociosidade crônica, com temporadas que mal duram cinco meses.

A questão do calendário passa necessariamente pelos campeonatos estaduais, e o papel desempenhado por cada um deles varia drasticamente conforme a federação.

“O Estadual é o único campeonato que a gente recebe para jogar”, diz Elias Duba, presidente do Madureira, por telefone ao Sport Insider. No Rio de Janeiro, clubes menores recebem cotas de R$ 2,6 milhões da FFERJ, oriundos da transmissão.

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Em contraste, Allan Araújo, executivo do Santa Cruz, afirma que o Campeonato Pernambucano é “deficitário financeiramente”. A diferença é gritante: a cota nesse Estado é de apenas R$ 143 mil para a maioria dos clubes — fração irrisória dos R$ 8,8 milhões pagos a um clube recém-promovido no Campeonato Paulista —, enquanto os grandes do Estado, Santa Cruz, Náutico e Sport, recebem R$ 333 mil.

Diante dessa realidade, a solução ideal para o Santa Cruz seria fortalecer a Copa do Nordeste, com a criação de duas divisões do torneio regional. A competição já distribui premiações significativamente maiores que os estaduais da região.

Apesar do prejuízo, Araújo reconhece que a solução não é extinguir os estaduais, mas “fortalecer”, pois eles são importantes “para manter times menores”. A força desses torneios está na rivalidade local, como aponta Duba.

“Acabar com o estadual é acabar com a rivalidade, acabar com os clubes de menor investimento, e são esses que investem na base”, opina o diretor do Santa.

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O custo para sonhar com a Série A

Se estaduais podem ou não gerar deficits para seus participantes, a depender da localização, as divisões de acesso do Brasileirão dão uma certeza aos dirigentes: o prejuízo. A falta de um calendário rentável gera consequências humanas graves.

“Quando chegamos, o clube não tinha calendário e tinha seis meses de atraso de salário”, conta Araújo sobre a situação do Santa Cruz em 2024.

A percepção de que as competições são deficitárias é unânime.

“A grande verdade da Série D, talvez a Série C também, é que você paga para jogar. O que você recebe não dá para as despesas”, afirma Duba, do Madureira.

O dirigente complementa que, quando o Madureira disputava a Série C, torcia secretamente pela eliminação para conter gastos. Já outro dirigente de um clube da terceira divisão, que não quis se identificar, vai além. “Série C e Série D não são lucrativas. Nem mesmo a Série B é lucrativa mais”.

A média de público da Série D em 2025 foi de apenas 1.486 pagantes por jogo. O Santa Cruz foi exceção, com média de 19.509 torcedores, e ainda assim teve dificuldades. Esse cenário, segundo um dos entrevistados, incentiva a má gestão. Clubes oferecem salários irreais e atrasam pagamentos, na aposta do tudo ou nada pelo acesso, o que reforça a necessidade de um mecanismo de fair play financeiro.

Um calendário para cada realidade

As propostas de solução divergem, mas há alguns consensos. O primeiro é a oposição à criação de uma quinta divisão nacional, a Série E. Após vivenciar a precária infraestrutura da Série D, como diretor de futebol do Santa Cruz, Araújo é taxativo. “Imagine se você criar uma Série E… Seria o suco do bagaço do futebol brasileiro.”

As alternativas variam conforme a necessidade. Para clubes como o Madureira, o ideal seria um estadual mais longo, de seis meses. Já o Santa Cruz, que depende da sua grande torcida, aposta em divisões nacionais mais robustas.

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