Trump ameaça os habitantes de Gaza: ‘Estão mortos’ se não libertarem os reféns

By Neto Gaia mar6,2025

Representantes do governo dos Estados Unidos mantiveram contatos diretos com o grupo islamista Hamas.

Por AFP — Washington D.C | Para Neto Gaia.

RESUMO

O presidente dos EUA, Donald Trump, fez um ultimato ao grupo terrorista Hamas e ameaçou a população palestina na Faixa de Gaza de morte na noite de quarta-feira, afirmando que se os reféns capturados durante o atentado de 7 de outubro de 2023 que permanecem no enclave não forem devolvidos a Israel, o preço a se pagar será “um inferno”.

Foto: Andrew Harnik /Getty Images via AFP/04/03/2025

O ultimato foi feito em uma publicação na rede social Truth Social, em um momento em que os EUA mantêm negociações diretas com a organização palestina sobre a continuidade do cessar-fogo assinado com os israelenses — recebendo críticas do grupo pelos comentários que dificultariam a manutenção da trégua.

“Ao povo de Gaza: um futuro lindo os espera, mas não se você mantiver reféns. Se você o fizer, você está MORTO! Tome uma decisão INTELIGENTE. LIBERTE OS REFÉNS AGORA, OU HAVERÁ UM INFERNO PELO QUAL PAGAR MAIS TARDE!”, escreveu o republicano em um trecho da publicação.

A mensagem direcionada à população palestina veio no trecho final da publicação, que na maior parte correspondia a um ultimato ao Hamas. Trump colocou a libertação imediata de todos os reféns — um ponto que tem estagnado o início da segunda fase do cessar-fogo acordado em janeiro — como fator necessário a continuidade da trégua, e que a não concordância significaria numa retomada da via militar, com apoio amplo americano a Israel.

“Shalom Hamas significa Olá e Adeus — Você pode escolher. Liberte todos os reféns agora, não depois, e devolva imediatamente todos os corpos das pessoas que você assassinou, ou ACABOU para você”, escreveu Trump. “Estou enviando a Israel tudo o que precisa para terminar o trabalho, nenhum membro do Hamas estará seguro se você não fizer o que eu digo. Acabei de me encontrar com seus antigos reféns cujas vidas você destruiu. Este é seu último aviso! Para a liderança, agora é a hora de deixar Gaza, enquanto você ainda tem uma chance”.

O chefe da diplomacia dos EUA, Marco Rubio, afirmou em entrevista à Fox News que Trump não estava brincando. “Ele não diz esse tipo de coisa se não estiver falando sério, como o mundo inteiro pode ver. Se ele diz que vai fazer algo, ele vai fazer”, declarou. “Então, é melhor que levem isso a sério”, acrescentou, dirigindo-se ao Hamas.

As ameaças do presidente, que se reuniu na quarta-feira com familiares dos reféns, coincidem com a confirmação de que os Estados Unidos e o grupo islamista mantiveram contatos diretos.

Essa posição rompe com a antiga política de Washington de não dialogar diretamente com organizações que considera terroristas, como é o caso do Hamas.

‘Ainda não acabou’

Questionada sobre essas conversas, reveladas pelo site Axios, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, respondeu que o enviado especial dos EUA, Adam Boehler, tem “autoridade para falar com qualquer um”.

– Israel foi consultado sobre esse assunto – acrescentou, sem dar detalhes sobre o conteúdo das reuniões, ressaltando que “vidas de cidadãos americanos estão em jogo”.

“O governo israelense expressou sua opinião sobre as conversas diretas com o Hamas durante as consultas com os EUA”, afirmou o gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

Líderes do Hamas também confirmaram os contatos.

– Houve várias comunicações entre o Hamas e diferentes canais dos EUA, a mais recente com um enviado americano, e foi discutida a questão dos prisioneiros israelenses com cidadania americana, tanto os vivos quanto os falecidos – declarou um dirigente do grupo sob anonimato.

Segundo o Axios, Boehler se encontrou com autoridades do Hamas nas últimas semanas em Doha para tratar da libertação de cinco reféns americanos, dos quais quatro estariam mortos, de acordo com um levantamento da AFP.

Apesar dos contatos, o chefe do Estado-Maior israelense, Eyal Zamir, afirmou na quarta-feira que o objetivo de eliminar o Hamas em Gaza “ainda não foi alcançado”, o que coloca em dúvida a trégua vigente no território palestino. Por sua vez, Netanyahu limitou-se a dizer que está “determinado a vencer”.

Israel lançou sua ofensiva militar na Faixa de Gaza após o ataque de 7 de outubro de 2023, no sul do país, realizado por membros do Hamas, que deixou 1.218 mortos.

O grupo capturou 251 reféns e os levou para Gaza. No momento, 58 seguem em cativeiro, sendo que 34 estariam mortos, segundo o Exército israelense.

A operação militar israelense resultou na morte de pelo menos 48.440 pessoas em Gaza, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde do Hamas, considerados confiáveis pela ONU.

A fome como ‘arma de guerra’

Em 19 de janeiro, entrou em vigor um acordo de trégua mediado por Catar, Egito e Estados Unidos.

Esse pacto, no entanto, está por um fio, pois Israel e Hamas divergem sobre como mantê-lo após a expiração da primeira fase. No período inicial, o Hamas libertou 33 reféns e Israel soltou cerca de 1.800 palestinos.

Israel quer estender essa fase até meados de abril, exigindo a “desmilitarização total” do território palestino, a saída do Hamas de Gaza e a libertação de todos os reféns antes de avançar para uma nova etapa.

Já o Hamas quer passar para a segunda fase do acordo, que prevê um cessar-fogo permanente.

Em meio a essas divergências, Israel anunciou no domingo a suspensão da entrada de ajuda humanitária em Gaza, uma medida denunciada na noite de quarta-feira na ONU por França e outros quatro países, que pediram a autorização “incondicional e em grande escala” da assistência humanitária.

Publicado às 9: 12, desta quinta-feira, 6.

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