Aumento das taxas sobre títulos da dívida norte-americana mostram que Wall Street está antecipando uma vitória do republicano. Entenda o motivo.
Por Jorge Fofano, g1 | Para Neto Gaia
02/11/2024 04h00 Atualizado há uma hora
Os últimos comícios de Kamala e Trump na corrida à Casa Branca
A menos de uma semana para o pleito presidencial dos Estados Unidos, as campanhas de Kamala Harris e Donald Trump tentam suas últimas cartadas para convencer eleitores em estados decisivos, como Georgia, Nevada, Wisconsin e Michigan.
Enquanto nas pesquisas de intenção de voto a democrata e o republicano aparecem tecnicamente empatados, um movimento no mercado de títulos da dívida pública norte-americana (chamados de “Treasuries”) sugere que o mercado financeiro aposta que Donald Trump será o vencedor do dia 5 de novembro.
No último mês, as taxas das Treasuries americanas saltaram. Veja abaixo.
- As taxas das Treasuries com vencimento em dois anos saíram de 3,61% para 4,16%;
- Já as taxas dos títulos com vencimento em 10 anos passaram de 3,78% para 4,35%.
Donald Trump e Kamala Harris disputam a eleição presidencial dos EUA em 2024 — Foto: REUTERS/Eduardo Munoz/Nathan Howard
Na prática, isso significa que os investidores estão pedindo um prêmio maior para emprestar dinheiro ao governo dos Estados Unidos. Isso porque a agenda de redução da arrecadação de Trump é vista como o cenário mais provável, o que diminuiria a capacidade do governo em cobrir o pagamento da dívida.
“Os mercados esperam um aumento na dívida pública americana sob qualquer um dos candidatos. Mas sob Trump e as medidas de corte de arrecadação, vemos o avanço da dívida pública ocorrendo em uma escala ainda maior”, disse Garrett Melson, da Natixis Wealth Management, à agência Reuters.
Segundo dados do Gabinete de Orçamento do Congresso (CBO, na sigla em inglês), a dívida pública dos Estados Unidos chega aos US$ 35 trilhões, um patamar maior que 100% do Produto Interno Bruto (PIB) gerado pelo país.
Durante o primeiro mandato Trump, o déficit público saltou US$ 7,8 trilhões. Na administração Joe Biden, até o presente momento, o incremento foi de US$ 4,8 trilhões.
Cálculos do CBO ainda apontam que o déficit poderá chegar a US$ 56,4 trilhões até 2034. De acordo com o presidente do Banco Central norte-americano, Jerome Powell, a trajetória fiscal dos Estados Unidos pode ser considerada como “insustentável”.
Esse cenário fez com que a Moody’s e a Fitch Ratings, duas das três principais agências de crédito, rebaixassem a nota da dívida soberana do país no ano passado.
A despeito do número astronômico, o tema fiscal não vem sendo explorado pelas candidaturas com tanta intensidade quanto a imigração e a estabilidade das instituições democráticas.
A falta de protagonismo do tema fiscal na disputa presidencial pode ter uma razão: o fato dos Estados Unidos serem capazes de refinanciar, constantemente, sua dívida através do dólar, contando com o poder da moeda como reserva mundial de valor.
Mas apesar dos efeitos serem minimizados pela condição especial do dólar, isso não significa que a economia dos Estados Unidos consiga sair totalmente ilesa do crescente déficit. O aumento da inflação e a convivência com juros básicos mais elevados seriam efeitos possíveis ante a expansão fiscal sem controle.
” Com a diminuição dos impostos, a vitória de Trump poderia aquecer a economia, mas também aumentar a inflação, a taxa de juros do BC norte-americano e o risco fiscal”, afirmaram os economistas do grupo financeiro europeu Julius Baer.
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O impacto das medidas de Harris e Trump no orçamento
Entre as medidas defendidas por Kamala Harris que mais custariam aos cofres públicos dos Estados Unidos está a extensão da isenção de impostos para os americanos que ganham até US$ 400 mil por ano — o que poderia gerar um rombo de US$ 3 trilhões.
O programa de governo da democrata também prevê a expansão de programas sociais para o cuidado de crianças e para famílias de baixa renda, além da inclusão de novos públicos dentro do programa de saúde do governo.
Harris compensaria o impacto do seu programa com a proposta de aumentar a 28% a taxa sobre empresas e ganhos capitais, além de estudar a criação de novas taxas para os mais ricos.
Já entre as medidas defendidas por Donald Trump que mais afetariam o orçamento estão a revogação de impostos sobre gorjetas e horas extras trabalhadas, além da redução do imposto sobre empresas para 15%. Essas medidas, em conjunto, têm a capacidade de reduzir a receita em US$ 3,8 trilhões.
Do lado das despesas, Trump prometeu aumentar o orçamento do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, além de investimentos no patrulhamento da fronteira entre os Estados Unidos e o México.
Seja com Kamala Harris ou Donald Trump na Casa Branca, especialistas ressaltam que o novo presidente não conseguirá, sozinho, aprovar medidas de arrecadação ou corte do orçamento federal.
Publicado às 15: 55, deste sábado, 2.