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Presidente americano cobrou por acordo e disse ser favorável a mediação de Putin; chanceleres europeus marcam reunião de emergência para discutir conflito
Por O Globo e agências internacionais — Jerusalém e Teerã

Em meio a um conflito que já deixou centenas de mortos e feridos em apenas quatro dias, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem buscado evitar uma escalada entre Israel e Irã. Segundo duas autoridades americanas ouvidas pela agência Reuters, ele vetou uma proposta de Israel para assassinar o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, situação que seria capaz de levar os combates a um ponto de não retorno. No fim de semana, o republicano chegou a demonstrar apoio a uma mediação conduzida pelo presidente russo, Vladimir Putin — que mantém uma boa interlocução com os dois lados — em prol de um cessar-fogo. Se no início da semana ele pensou que o ataque levaria o Irã a fazer concessões no seu programa nuclear, analistas veem o movimento como um erro de cálculo com contornos perigosos.
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Nos bastidores, fontes ouvidas pela imprensa americana afirmam que Trump ainda nutre esperanças de retomar as negociações com Irã para evitar que o país obtenha uma arma atômica, mas as expectativas por um encontro entre as delegações — que aconteceria neste domingo em Omã — foram por água abaixo após o amplo ataque promovido por Israel na quinta-feira.
Segundo os relatos, Israel informou aos EUA que tinha uma oportunidade concreta de matar Khamenei, mas Washington teria impedido a operação. As fontes não confirmaram se foi Trump quem deu a ordem final, mas afirmaram que ele intensificou as comunicações com o premier israelense, Benjamin Netanyahu, desde o início dos ataques.

Ambiguidade americana
Na sexta-feira, Trump admitiu que sabia da operação israelense e instou Teerã a voltar à mesa de negociações sobre o seu programa nuclear “antes que seja tarde demais”. O Irã, por sua vez, classificou o ataque israelense como um ato de guerra, encerrando o diálogo diplomático. Entre idas e vindas nas suas declarações, o republicano moderou o tom com o passar dos dias, pedindo que as partes “façam um acordo”:
“O Irã e Israel devem fazer um acordo, e farão um acordo”, escreveu no domingo em sua plataforma Truth Social, acrescentando que há “muitas ligações e reuniões acontecendo agora” sobre a questão e que a paz poderia ser alcançada “em breve”.
Questionado sobre o plano de assassinato durante a sua primeira entrevista desde o início da ofensiva, Netanyahu desconversou:
— Há muitas reportagens falsas sobre conversas que nunca aconteceram, e eu não vou comentar isso — disse ao canal Fox News. — Faremos o que for necessário. E os Estados Unidos sabem o que é melhor para os Estados Unidos.
Em entrevista a repórteres à margem da cúpula do G7, no Canadá, Trump disse que os EUA continuarão a apoiar Israel, mas reiterou seu desejo de que os dois países consigam um cessar-fogo. Um dia antes, o presidente americano conversou com seu homólogo russo, Vladimir Putin, por cerca de uma hora e disse apoiar que Putin — ele mesmo envolvido na guerra contra a Ucrânia — possa atuar como mediador no conflito.
— Eu estaria aberto a isso — disse à emissora americana ABC News. — [Putin] está pronto. Tivemos uma longa conversa sobre isso. Acredito que isso será resolvido.
Negociações de paz exigem uma paciência que falta em Trump, “conhecido por querer resultados imediatos”, escreveu o historiador militar americano Max Boot em artigo no Washington Post.
“Ele não está disposto a pressionar Netanyahu ou Putin, a quem considera seus amigos. E ele tem pouca capacidade de concentração”.
Determinado a obter um novo acordo agora, o republicano também tem enviado sinais contraditórios sobre a sua disposição de aceitar algum nível de enriquecimento no programa atômico — que Teerã nega que seja para fins bélicos — , por vezes sugerindo o seu desmantelamento total. Por trás da retórica, porém, um oficial americano ouvido pelo Washington Post descreveu as negociações como “construtivas” antes do ataque de Israel.
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E se no Oriente Médio as negociações estão paradas, a Europa se movimenta para evitar uma escalada. A alta representante da União Europeia para política externa, Kaja Kallas, convocou os ministros das Relações Exteriores do bloco para uma reunião de emergência sobre o conflito nesta terça-feira.
No domingo, Israel e Irã voltaram a se atacar mutuamente. Durante o dia, explosões foram vistas em Teerã e na cidade de Mashhad, o local mais sagrado do Irã para os muçulmanos xiitas. As Forças Armadas de Israel disseram ter atacado a sede do Ministério da Defesa, depósitos de combustível, um centro de comando relacionado ao projeto nuclear e outras infraestruturas com arquivo nuclear escondido. A Força Aérea israelense também promoveu ataques em Natanz, principal instalação de enriquecimento de urânio. Segundo Netanyahu, o chefe da inteligência iraniana, Mohammad Kazemi, foi morto em um ataque aéreo.

Refinaria atacada
O Irã, por sua vez, promoveu uma nova onda de ataques, matando 11 pessoas, elevando o número de mortos para 14, e deixando mais de 390 feridas durante a madrugada. Segundo serviços de resgate israelenses, os mísseis atingiram prédios residenciais, inclusive no norte do país.
De acordo com a imprensa estatal iraniana, foram disparados “centenas de vários tipos de mísseis balísticos”, que tinham como alvos “instalações vitais de energia israelenses”. O texto afirma que houve danos a locais como a refinaria de Haifa, a maior do norte do país. Nas redes sociais, o Exército iraniano divulgou um vídeo dos mísseis lançados em direção a Israel e disse estar “sistematicamente desmantelando a capacidade do regime sionista de cometer um genocídio e orquestrar o terror”.
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Desde que o Irã iniciou seus ataques, 14 pessoas morreram em Israel, incluindo três menores de idade, e mais de 390 ficaram feridas durante a noite de sábado e a madrugada deste domingo. Do lado iraniano, ao menos 224 pessoas morreram, e mais de 1.200 ficaram feridas. Segundo o Ministério da Saúde iraniano, mais de 90% das vítimas são civis.
Publicado às 8h 5, desta segunda-feira, 16.