Escalada entre Israel e Irã mina tentativa de Trump de articular cessar-fogo

By Neto Gaia jun16,2025

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Presidente americano cobrou por acordo e disse ser favorável a mediação de Putin; chanceleres europeus marcam reunião de emergência para discutir conflito

Por O Globo e agências internacionais — Jerusalém e Teerã

Em meio a um conflito que já deixou centenas de mortos e feridos em apenas quatro dias, o presidente dos Estados UnidosDonald Trump, tem buscado evitar uma escalada entre Israel e Irã. Segundo duas autoridades americanas ouvidas pela agência Reuters, ele vetou uma proposta de Israel para assassinar o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, situação que seria capaz de levar os combates a um ponto de não retorno. No fim de semana, o republicano chegou a demonstrar apoio a uma mediação conduzida pelo presidente russo, Vladimir Putin — que mantém uma boa interlocução com os dois lados — em prol de um cessar-fogo. Se no início da semana ele pensou que o ataque levaria o Irã a fazer concessões no seu programa nuclear, analistas veem o movimento como um erro de cálculo com contornos perigosos.

Nos bastidores, fontes ouvidas pela imprensa americana afirmam que Trump ainda nutre esperanças de retomar as negociações com Irã para evitar que o país obtenha uma arma atômica, mas as expectativas por um encontro entre as delegações — que aconteceria neste domingo em Omã — foram por água abaixo após o amplo ataque promovido por Israel na quinta-feira.

Segundo os relatos, Israel informou aos EUA que tinha uma oportunidade concreta de matar Khamenei, mas Washington teria impedido a operação. As fontes não confirmaram se foi Trump quem deu a ordem final, mas afirmaram que ele intensificou as comunicações com o premier israelense, Benjamin Netanyahu, desde o início dos ataques.

Socorristas buscam feridos após míssil do Irã atingir prédio em Tel Aviv — Foto: Gil COHEN-MAGEN / AFP
Socorristas buscam feridos após míssil do Irã atingir prédio em Tel Aviv — Foto: Gil COHEN-MAGEN / AFP

Ambiguidade americana

Na sexta-feira, Trump admitiu que sabia da operação israelense e instou Teerã a voltar à mesa de negociações sobre o seu programa nuclear “antes que seja tarde demais”. O Irã, por sua vez, classificou o ataque israelense como um ato de guerra, encerrando o diálogo diplomático. Entre idas e vindas nas suas declarações, o republicano moderou o tom com o passar dos dias, pedindo que as partes “façam um acordo”:

“O Irã e Israel devem fazer um acordo, e farão um acordo”, escreveu no domingo em sua plataforma Truth Social, acrescentando que há “muitas ligações e reuniões acontecendo agora” sobre a questão e que a paz poderia ser alcançada “em breve”.

Questionado sobre o plano de assassinato durante a sua primeira entrevista desde o início da ofensiva, Netanyahu desconversou:

— Há muitas reportagens falsas sobre conversas que nunca aconteceram, e eu não vou comentar isso — disse ao canal Fox News. — Faremos o que for necessário. E os Estados Unidos sabem o que é melhor para os Estados Unidos.

Em entrevista a repórteres à margem da cúpula do G7, no Canadá, Trump disse que os EUA continuarão a apoiar Israel, mas reiterou seu desejo de que os dois países consigam um cessar-fogo. Um dia antes, o presidente americano conversou com seu homólogo russo, Vladimir Putin, por cerca de uma hora e disse apoiar que Putin — ele mesmo envolvido na guerra contra a Ucrânia — possa atuar como mediador no conflito.

— Eu estaria aberto a isso — disse à emissora americana ABC News. — [Putin] está pronto. Tivemos uma longa conversa sobre isso. Acredito que isso será resolvido.

Negociações de paz exigem uma paciência que falta em Trump, “conhecido por querer resultados imediatos”, escreveu o historiador militar americano Max Boot em artigo no Washington Post.

“Ele não está disposto a pressionar Netanyahu ou Putin, a quem considera seus amigos. E ele tem pouca capacidade de concentração”.

Determinado a obter um novo acordo agora, o republicano também tem enviado sinais contraditórios sobre a sua disposição de aceitar algum nível de enriquecimento no programa atômico — que Teerã nega que seja para fins bélicos — , por vezes sugerindo o seu desmantelamento total. Por trás da retórica, porém, um oficial americano ouvido pelo Washington Post descreveu as negociações como “construtivas” antes do ataque de Israel.

E se no Oriente Médio as negociações estão paradas, a Europa se movimenta para evitar uma escalada. A alta representante da União Europeia para política externa, Kaja Kallas, convocou os ministros das Relações Exteriores do bloco para uma reunião de emergência sobre o conflito nesta terça-feira.

No domingo, Israel e Irã voltaram a se atacar mutuamente. Durante o dia, explosões foram vistas em Teerã e na cidade de Mashhad, o local mais sagrado do Irã para os muçulmanos xiitas. As Forças Armadas de Israel disseram ter atacado a sede do Ministério da Defesa, depósitos de combustível, um centro de comando relacionado ao projeto nuclear e outras infraestruturas com arquivo nuclear escondido. A Força Aérea israelense também promoveu ataques em Natanz, principal instalação de enriquecimento de urânio. Segundo Netanyahu, o chefe da inteligência iraniana, Mohammad Kazemi, foi morto em um ataque aéreo.

Incêndio em depósito de combustível no norte de Teerã, provocado por bombardeio israelense — Foto: ATTA KENARE / AFP
Incêndio em depósito de combustível no norte de Teerã, provocado por bombardeio israelense — Foto: ATTA KENARE / AFP

Refinaria atacada

O Irã, por sua vez, promoveu uma nova onda de ataques, matando 11 pessoas, elevando o número de mortos para 14, e deixando mais de 390 feridas durante a madrugada. Segundo serviços de resgate israelenses, os mísseis atingiram prédios residenciais, inclusive no norte do país.

De acordo com a imprensa estatal iraniana, foram disparados “centenas de vários tipos de mísseis balísticos”, que tinham como alvos “instalações vitais de energia israelenses”. O texto afirma que houve danos a locais como a refinaria de Haifa, a maior do norte do país. Nas redes sociais, o Exército iraniano divulgou um vídeo dos mísseis lançados em direção a Israel e disse estar “sistematicamente desmantelando a capacidade do regime sionista de cometer um genocídio e orquestrar o terror”.

Desde que o Irã iniciou seus ataques, 14 pessoas morreram em Israel, incluindo três menores de idade, e mais de 390 ficaram feridas durante a noite de sábado e a madrugada deste domingo. Do lado iraniano, ao menos 224 pessoas morreram, e mais de 1.200 ficaram feridas. Segundo o Ministério da Saúde iraniano, mais de 90% das vítimas são civis.

Publicado às 8h 5, desta segunda-feira, 16.

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